Goethe-Institut realiza I Festival Digital Latitude


Carta de Koffi Mensah Akagbor para Émilie B. Guérette. Divulgação

“Repensando relações de poder – por um mundo decolonizado e antirracista” – este é o lema da Latitude, revista digital do Goethe-Institut que vai gerar o primeiro Festival Digital Latitude, entre 4 e 6 de junho, totalmente em ambiente virtual, a partir do site www.goethe.de/latitude-festival. Durante os três dias, a programação totalmente gratuita inclui contribuições artísticas e teóricas, centrada no questionamento sobre como as estruturas coloniais surtem efeito até o presente e como elas podem ser superadas.

O evento reúne posições internacionais da arte, ciência, cultura e política, com convidados de vários países. Entre os participantes, estão a politóloga Nanjira Sambuli (Quênia), a filósofa Denise Ferreira da Silva (Canadá), a performer Trixie Munyama (Namíbia), o historiador Ciraj Rassool (África do Sul) e o pesquisador de migração Mark Terkessidis (Alemanha).

Quão fortemente estruturas de poder influenciam o nosso dia-a-dia e a nossa convivência? Quais estruturas racistas atuam sobre nosso presente? Quais são as narrativas que intencionamos criar quando falamos sobre a desigualdade entre norte e sul? A restituição de objetos usurpados em contextos coloniais precisa ocorrer de maneira mais decidida?

Qual a relevância social que os museus do futuro têm como meta? Quais são as visões de uma internet do futuro partindo da perspectiva do Sul Global? Estas são algumas das perguntas que direcionam o festival, que foi inicialmente pensado para acontecer fisicamente e que amplia seu alcance ao ser transformado para o ambiente digital.

O evento se divide em quatro complexos temáticos que abordam a perpetuação de estruturas coloniais, refletindo sobre assimetrias e injustiças sociais: desigualdade econômica; racismo, identidade e memória; conduta frente a bens culturais; e (des)igualdade digital global. Ao lado de discussões, debates e entrevistas, se apresentam filmes, performances, concertos e shows ao vivo através de streaming e por vídeos gravados. Os trabalhos advêm de projetos de arte e discursos iniciados ou apoiados pelo Goethe-Institut em diversos países nos últimos anos.

Açúcar sobre capela. Tiago SantAna. Divulgação

Instituto cultural da República Federal da Alemanha, o Goethe-Institut, fundado em 1951, se dedica a fomentar o diálogo entre culturas e é a maior instituição de ensino de alemão no mundo. Com 159 unidades em 98 países de todos os continentes, cultiva a colaboração cultural internacional e transmite uma representação atual da Alemanha. Para a realização do Latitude Festival, diversas de suas filiais estão ativadas. No Brasil, o Goethe-Institut Salvador-Bahia se destaca pelo seu Programa de Residência Artística Vila Sul, que oferece diversos conteúdos ao evento.

DESTAQUES DA PROGRAMAÇÃO – A analista e consultora política Nanjira Sambuli (Quênia) vai discursar sobre as chances de inovações digitais apresentadas pela perspectiva africana. A teórica Denise Ferreira da Silva (Canadá) falará sobre racismo no pensamento ocidental moderno. A jurista Leora Bilsky (Israel) pergunta sobre o potencial da restituição de bens culturais para o Transitional Justice. As performers Laís Machado (Brasil) e Trixie Munyama (Namíbia) contribuirão com trabalhos digitais, especificamente desenvolvidos para o evento, que se preocupam de maneiras diversas com a questão de rituais. A coreógrafa Joana Tischkau (Alemanha) convidará, com o seu programa “Colonastics”, a decolonizar o corpo, o espírito e a alma. A blogueira gastronômica Ozoz Sokoh (Nigéria) perseguirá as interligações (pós-)coloniais de comidas. A abertura será feita pela ministra de Política Cultural do Estado Alemão Michelle Müntefering.

Outros nomes confirmados são Alex Herman (jurista, Inglaterra/Canadá), Ayisha Osori (escritora, Nigéria), Diego Araúja (artista transdisciplinar e diretor de teatro, Brasil), Eric 1key (poeta, Ruanda), John Nakuta (jurista, Namíbia), Keyna Eleison (curadora e crítica de arte, Brasil), Larissa Förster (antropóloga, Alemanha), Latika Gupta (historiadora da arte, Índia), Léontine Meijer-van Mensch (diretora de museu, Alemanha), Mi You (curadora e professora, Alemanha), Nelago Shilongoh (teatróloga e perfomer, Namíbia), Nikita Dhawan (cientista política, Alemanha), Pasacale Obolo (cineasta, França), Rachel Nyangombe (cantora, Congo), Renata Ávila Pinto (jurista e ativista, Guatemala), Souleyman Bachir Diagne (filósofo, Estados Unidos), Tonya Nelson (jurista e historiadora da arte, Inglaterra) e Urvashi Butalia (escritora e editora, Índia).

Um programa exclusivo de rádio será realizado em colaboração com a rádio independente de artistas reboot.fm e com a Radio-Netzwerk Berlin, transmitido continuamente durante o festival. Em cooperação com o Arsenal – Instituto de Cinema e a Videoarte, será exibido um programa de filmes através da plataforma Arsenal 3. Para ter um alcance ainda maior, a emissora Deutschlandfunk Kultur será um meio de comunicação parceiro e contribui com o festival com dois programas: um sobre o tema “Decolonializem-se!” e um debate sobre “Participação Digital”. E a revista virtual Latitude continuará publicando, a longo prazo, debates e colaborações de especialistas internacionais.

PROGRAMAÇÃO DO GOETHE-INSTITUT SALVADOR-BAHIA – Através de seu Programa de Residência Artística Vila Sul, o Goethe-Institut Salvador-Bahia promove variada programação dentro do Latitude Festival. Oficialmente inaugurada em novembro de 2016, a Vila Sul é a terceira residência artística no âmbito geral das unidades do Goethe-Institut e primeira e única da rede no Sul Global.

A sua proposta é fortalecer interlocuções entre o Brasil e demais países do hemisfério Sul a partir da presença de artistas de todo o mundo, genuinamente interessados em perspectivas sociopolíticas e culturais desta metade do planeta. Noventa agentes culturais foram acolhidos ao longo destes anos, incluindo os quatro atuais que estão vivenciando uma experiência diferente de trocas culturais, numa prática a distância: a cineasta Émilie B. Guérette (Canadá), o artista visual Koffi Mensah Akagbor (Togo/Burkina Faso), a jornalista, crítica de arte e curadora Renata Martins (Brasil/Alemanha) e o artista visual Thó Simões (Angola).

As atividades apresentadas pelo Goethe Salvador têm curadoria do artista visual baiano Tiago Sant’Ana. “A Vila Sul apresenta projetos que têm como eixo de investigação as possibilidades de trocas estéticas e políticas entre artistas num momento de exigência de distanciamentos”, conta ele. “Os projetos foram pensados especificamente para a exibição e acesso pela internet. Sendo assim, respeita as regras de distanciamento social físico e acredita no poder da criação e da união para além da separação obrigatória em tempos de pandemia global. A curadoria se dá por meio de uma insistência afetiva, mesmo que o toque seja substituído por pixels. Trata sobre como, apesar da clausura, é possível pensar para além dos muros”, completa Tiago.

Velas para barcos feitos para fundar, de Rebeca Carapiá. Divulgação

Projetos nas áreas de artes visuais, artes dramatúrgicas e cinema trazem a experiência de pessoas criadoras do Sul Global, levando em conta o que une as diferentes nações pertencentes a este eixo: seu passado de exploração colonial e a capacidade de resistência e de criação de linhas de fuga. Os materiais, gravados ou para visitação, ficam acessíveis durante toda a temporada do festival, e dois bate-papos serão realizados ao vivo.

A exposição “TransAções” exibe trabalhos de 10 artistas visuais do Brasil, selecionados por meio de um mapeamento público que vai lançar um espaço virtual inédito no país para a divulgação do trabalho de artistas transgêneros em suas mais variadas linguagens nos campos das artes visuais. O projeto nasce da proposição de Renata Martins, uma das atuais residentes da Vila Sul, que assina a seleção das obras junto com o Goethe-Institut Salvador, a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), o Movimento Nacional de Artistas Trans (MONART) e a Casa Aurora – Centro Cultural e de Acolhimento LGBTQI+.

Na mostra “Metal contra as nuvens”, são reunidas obras dos artistas visuais Koffi Mensah Akagbor, residente da Vila Sul, e da brasileira Rebeca Carapiá. Os trabalhos, em fotografias e vídeos, têm como eixo de investigação a possibilidade de reaproveitamento de materiais com objetivos escultóricos e partem de processos colaborativos com pessoas de suas comunidades.

Já na mostra “Best regards”, as relações, as distâncias, as comunicações e seus ruídos são postos em tangência com o objetivo de entender a capacidade de intercâmbios interpessoais como estratégia de criação visual. Cartas escritas à mão e trocadas pelos atuais residentes da Vila Sul são tomadas como subterfúgio e como documentos que são aproximados de outros trabalhos artísticos, como “Carta para o Futuro”, do gaúcho Eduardo Montelli, e “Navio de emigrantes” e “Ao sul do futuro”, da carioca Leila Danziger, justapondo-se num tempo em que as relações humanas vivem momentos contraditórios diante da obrigatoriedade da distância e da necessidade da presença.

Aldri Anunciação. Divulgação

Os dramaturgos brasileiros Aldri Anunciação, Diego Araúja, Jhonny Salaberg, Maria Shu e Mônica Santana apresentam em leitura cênica, com os atores Caboclo de Cobre, Filipe Ramos, Laís Machado, Márcia Limma e Marina Esteves, o resultado do seu trabalho coletivo para a escrita de um texto inédito para teatro, criado ao vivo e publicamente em arquivo digital durante um mês de dedicação em meio às atuais condições de isolamento social. Com o título de “Ar-f-ar”, a obra foi produzida através da “Sala de Dramaturgia Virtual Brasil”, um projeto do Goethe-Institut Salvador-Bahia em parceria com a plataforma Melanina Digital.

No bate-papo “Crítica de arte como exercício de escrita: diálogo sobre a obra de Tho Simões”, Renata Martins e Tho Simões, residentes da Vila Sul, conversam ao vivo sobre o workshop de crítica de arte ministrado virtualmente por ela com participantes de distintos lugares do Brasil, tendo como tema análise das obras dele. Em um momento tão delicado para as relações humanas, essa atividade criou pontes geográficas e interpessoais entre Brasil-Angola-Alemanha. A live será no dia 4 de junho, às 12h15 (horário de Brasília).

Em outro bate-papo, “Alianças feministas e decoloniais no cinema”, também ao vivo, se encontram mulheres cineastas, de diversas origens, que têm em comum o desejo de questionar a ordem colonial e patriarcal do mundo através do seu trabalho artístico, no dia 5 de junho, às 12h15 (horário de Brasília). Émilie B. Guerétte (Canadá), residente da Vila Sul, Graciela Guarani (Brasil), Peggy Nkunga Ndona (Congo/Canadá) e Sabrina Fidalgo (Brasil) buscam responder como transcender as dinâmicas de poder tradicionais, tanto nas narrativas produzidas quanto no processo de produção, e como formar alianças saudáveis entre pessoas com privilégios e lugares de fala distintos, para potencializar narrativas críticas ou subversivas.

Para completar, será exibido vídeo de “Açúcar sobre capela” (2018), obra de Tiago Sant’Ana. As ruínas de uma capela rural pertencentes ao antigo Engenho Paramirim são cobertas por 100 quilos de açúcar. Na ação, o artista utiliza do açúcar como uma maneira destacar o engenho – hoje esquecido e deteriorado pelo tempo – como um espaço que catalisou os processos de violência racial escravocrata no Brasil.

Para fotos da programação da Vila Sul, acesse:

https://bit.ly/latitude-vilasul

Latitude Festival

Quando: 4 a 6 de junho (quinta a sábado)

Onde: www.goethe.de/latitude-festival

Programação online

Totalmente gratuita e aberta ao público

Página disposta em Alemão e Inglês

Conteúdos da Vila Sul em Alemão, Inglês e Português

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