Com Larissa Luz, Ilê Aiyê e Ministereo Público, Banho de Mar à Fantasia aproveita pré-Carnaval para denunciar gentrificação e especulação imobiliária no Centro Antigo de Salvador
O Banho de Mar à Fantasia, festa pré-carnavalesca que lota a Ladeira da Preguiça e as imediações, no bairro do Dois de Julho, promete levar novamente uma multidão vestida de personagens icônicos para as ruas de Salvador neste domingo, dia 16 de fevereiro.
A edição de 2020 da festa, que acontece há mais 90 anos e foi revitalizada na última década por um grupo de moradores e ativistas, vai reafirmar o objetivo político da atividade, que é denunciar a gentrificação e a especulação imobiliária que tenta remover os moradores das comunidades negras e pobres do Centro Antigo da capital baiana.
Na programação do evento pré-carnavalesco, entre palavras de ordem, serpentinas, glitter e protestos, estão artistas como a cantora Larissa Luz, a banda de soundystem Ministereo Público, o afoxé feminino Filhas de Gandhy, o rapper Xarope MC, o grupo cultural de juventude Batekoo, as bandas de samba Vai Kem Ké e Assim Que Se Faz, o bloco afro Ilê Aiyê, os Mascarados de Maragogipe e a Fanfarra da Preguiça.
A maioria das atrações se dividirá entre o Palco da Praia, localizado na Praia da Preguiça, e o Palco Mirante, situado na Rua Visconde de Mauá. Já os Mascarados de Maragogipe e a Fanfarra da Preguiça serão responsáveis por puxar o cortejo que dá início à festa, saindo da Ladeira Preguiça pontualmente às 12h.
Quando chegar ao Largo Dois de Julho, a caminhada passa a ser liderada pelo bloco Ilê Aiyê, que fará a ‘levada’ do retorno, em direção à Praia da Preguiça. O Banho de Mar à Fantasia, que dá nome à festa, vai acontecer nesse momento, no meio da tarde.
“Nossa ideia é que a festa seja tão bem-sucedida quanto no ano anterior, mas que a gente dê o peso político necessário, que é o que faz essa atividade existir. Precisamos denunciar o processo de gentrificação e de retirada de direitos das pessoas negras, das tentativas de remoção dos moradores dessa região”, afirma o ativista cultural Marcelo Teles, um dos coordenadores do Centro Cultural Que Ladeira É Essa?.
O historiador Marcos Rezende, ativista do Coletivo de Entidades Negras (CEN) e um dos responsáveis pela revitalização do Banho de Mar à Fantasia, também defende que a festa possui uma função social forte, que é garantir os direitos da população negra.
“O que queremos é, por meio de uma atividade que parece ser somente festiva, mostrar que a nossa cultura é o meio ideal para denunciar o racismo geográfico e territorial, a criminalização dos nossos territórios, defender o direito de todas as pessoas à cidade, o direito à moradia e de nosso povo permanecer nos locais onde ele construiu sua história a vida toda. Essa é uma ação em defesa da cidade, porque construir um Salvador para todos é defender toda a cidade”, defende Marcos Rezende.
Organizado pelo CEN e pelo Centro Cultural Que Ladeira É Essa?, o Banho de Mar à Fantasia 2020 tem o apoio institucional da Fundação Gregório de Mattos (FGM) e da Empresa Salvador Turismo (Saltur), órgãos da Prefeitura Municipal de Salvador, e também do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC) e do Centro de Culturas Populares Identitárias (CCPI), órgãos ligados à Secretaria da Cultura do Governo do Estado da Bahia (Secult-BA). Também apoiam a ação a Rede Bahia de Televisão, a ONG Rede Mar Vivo e as marcas Crioula, Kamará Produções, Salvador Meu Amor, Loja Negros Solidários e AmmaBahia (Associação dos Mascarados de Maragogipe), além dos blocos As Muquiranas e As Kuviteiras.