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Antigona Recortada

A nona edição do Festival Internacional de Artes Cênicas – FIAC acontece em 12 espaços da cidade, incluindo o Coaty, Espaço Cultural da Barroquinha e Teatro Gregório de Mattos, 25 e 30 de outubro. A capital baiana está sendo um centro de ebulição performativa com espetáculos, oficinas, debates, mediações e festas, todos buscando refletir juntos sobre uma mesma questão: Como reinventar a participação coletiva diante de tantas rupturas?

Olhar para dentro de si, para o lado, e decidir como posicionar seu discurso, sua ação; principalmente, esquecer regras e criar o próprio jogo para estabelecer novos modos de (re)existir em tempos de crise, seja ela pessoal ou coletiva.

Essa é a proposta da nona edição do Festival Internacional de Artes Cênicas da Bahia, o FIAC Bahia, que acontece em Salvador entre os dias 25 e 30 de outubro com patrocínio da Petrobras, apoio financeiro do Governo do Estado, através do Fundo de Cultura, Secretaria da Fazenda e Secretaria de Cultura da Bahia e apoio da Fundação Gregório de Mattos, Prefeitura Municipal de Salvador. Ao longo de seis dias, a capital baiana será um centro de ebulição performativa com espetáculos, oficinas, debates, mediações e festas, todos buscando refletir juntos sobre uma mesma questão: Como reinventar a participação coletiva diante de tantas rupturas?

Reconhecendo o festival como ambiente de formação, criação, produção, difusão e, sobretudo, como oportunidade para promover experiências e múltiplas traduções, a equipe da 9a edição do FIAC Bahia aproxima-o da noção participativa como uma convocação ao engajamento direto, em detrimento a esquemas de representação. Em cada uma das ações programadas, portanto, o convite é para o coletivo, o engajamento físico, uma convocação à presença; ou seja, um chamado para “meter mão”, tanto no sentido figurado, quanto literal. O FIAC Bahia 2016 é uma realização da Realejo Projetos, e produção da 7OITO Projetos.

ESTREIA – O FIAC Bahia 2016 terá início no dia 25 de outubro, às 10h, com a 3a edição do Seminário Internacional de Curadoria e Mediação em Artes Cênicas ocupando o Goethe-Institut. Às 20h, no Teatro Vila Velha, acontece a abertura oficial com o espetáculo Nós, do Grupo Galpão (MG), convocando logo de cara o público a entrar em cena. Gerada após um mergulho radical na experiência de mais de 30 anos do Galpão, a 23ª montagem da companhia tem direção de Márcio Abreu e patrocínio da Petrobras, e surge para debater questões como a violência e a intolerância, a partir de uma dimensão política. Neste trabalho, somos todos levados a presenciar situações de opressão e de convívio com a diferença, provocadas pelas relações de proximidade entre artista e espectador, ator e personagem, cena e plateia, público e privado, realidade e ficção. Nós chega ao FIAC Bahia pouco tempo depois de sua estreia nacional, realizada em abril deste ano.

A partir da noite de estreia, o festival se espalhará por 12 espaços de Salvador: além do Teatro e Pátio do Goethe-Institut, e Teatro Vila Velha, as atividades serão realizadas no Teatro Castro Alves, Teatro Martim Gonçalves, Espaço Cultural Barroquinha, Teatro Martim Gonçalves, Teatro Experimental, Teatro Gregório de Mattos, Casarão Barabadá, Casa Preta, Coaty e Oliveiras. A programação de cada espaço pode ser acessada também no site oficial do FIAC Bahia, no endereço www.fiacbahia.com.br.

DIFERENTES VOZES – Para quem estiver na cidade, será a chance de (vi)ver pela primeira vez no país, por exemplo, montagens como I Am Not Ashamed of My Communist Past (“Não Tenho Vergonha do Meu Passado Comunista”, da diretora Sanja Mitrović – nascida em Zrenjanin, antiga Iugoslávia – e do ator sérvio Vladimir Aleksić) ou Trilogia Antropofágica: Ato I – Permanecer e Ato II – Resistir (Tamara Cubas – Uruguai). Os três espetáculos estarão ao lado de outros que chegam pela primeira vez na Bahia, depois de conquistar críticas elogiosas em suas respectivas temporadas: Amadores (Cia. Hiato – SP), OE (Eduardo Okamoto – SP), Villa + Discurso (Guillermo Calderón – Chile) e Antígona Recortada – Contos que cantam sobre pousospássaros (Núcleo Bartolomeu de Depoimentos – SP).

Da produção baiana estão na programação Cuspe, Paetês e Lantejoulas (Grupo de Dança Contemporânea da UFBA), Endogenias (Balé Teatro Castro Alves), Isto Não É uma Mulata (Mônica Santana), Mamba Negra: o Covil da Imperatriz Mavambo (Diego Alcântara), O Bobo (Teatro Terceira Margem), O Galo (OCO Teatro Laboratório) e Obsessiva Dantesca (Laís Machado), formando um grupo de trabalhos que dão corpo a diferentes vozes, mas que se agrupam pela coragem de debater e dar visibilidade a tópicos relacionados a engajamento social e a crises de representatividade. Trazem também modos de pensar dos atuais modelos de produção do fazer artístico, a partir do enfrentamento a questionamentos internos e a crises surgidas a partir do próprio modo de existir.

CENA FORA DA CENA – Se nos espetáculos a produção de um pensamento crítico é proposta em cena, a nona edição do FIAC Bahia traz também outras possibilidades de experiências reflexivas, não menos performáticas. Jornalistas e coletivos de diversos estados – Antro Positivo (SP), Questão de Crítica (RJ), Satisfeita, Yolanda? (PE), Horizonte da Cena (MG), AGORA (RS), Barril (BA) e Precisa-se Público (RJ) – chegam para realizar intervenções em ações múltiplas. Em uma delas, o público será estimulado a expressar suas opiniões a respeito dos espetáculos e enviá-las para uma seleção. Uma vez escolhidos, os textos serão comprados e disponibilizados para publicação.

As noções do que faz parte da cena ou de fora dela também são expandidas com a 3a edição do Seminário Internacional de Curadoria e Mediação em Artes Cênicas, que integra o FIAC Bahia, através de três eixos principais que ganham vida no Goethe-Institut: Diálogos, Invenções e Partilha. Os Diálogos reunirão nomes ligados às artes cênicas locais, para vivenciar – simultaneamente – rodas de conversas com o público sobre assuntos ligados aos desafios envolvidos em suas respectivas experiências. As Invenções surgem numa parceria com o Goethe-Institut e a curadora e dramaturga alemã Sigrid Gareis, que convidará especialistas baianos em diversas áreas para fomentar experiências sobre colaboração e utopias coletivas. Já a Partilha acontecerá por meio de publicações artesanais dos conteúdos produzidos durante o festival, confeccionadas pelo público junto com a Sociedade DA Prensa (SDP).

CARTAZ CUSTOMIZADO – A verdade é que nem mesmo a arte desenvolvida na identidade visual do FIAC foge à horizontalidade proposta este ano. Numa parceria da TANTO Criações Compartilhadas com a Sociedade DA Prensa, a confecção do material gráfico de divulgação alia produção industrial e artesanal, e instiga tanto o público quanto os participantes do FIAC Bahia a “meterem mão” nesse processo e customizar, por exemplo, os cartazes e programas que desejarem. As pessoas contarão com um arsenal de ferramentas, tintas e materiais diversos para criar suas próprias peças gráficas, e poderão ainda se inscrever em oficinas de serigrafia, carimbo, estêncil e xilogravura, numa programação que se complementa com oficinas de artes cênicas.

As mediações programadas pelo FIAC Bahia complementam a ideia de explodir fronteiras pré-estabelecidas, e cria uma equipe de artistas e pesquisadores visitando escolas, organizações e grupos de Salvador para trabalhar o conceito do festival, convidando-os a vivenciar atrações da programação que tenham relação direta com suas vivências. Entre os dias 25 e 30 de outubro, todos serão recebidos numa visita ao espaço escolhido e, após vivenciar espetáculos/oficinas/debates, participarão de bate-papos e receberão materiais que estimulam o desdobramento das questões trazidas em cena em suas próprias experiências cotidianas.

Não menos importante, o ponto de encontro noturno é concebido com intuito de valorizar projetos de ocupações artísticas na capital baiana. Coletivos como a Ocupação Coaty, o Oliveiras, o Casarão Barabadá e a Casa Preta receberão as “Festas em Casa”, com bandas e DJs para celebrar os encontros entre o público, artistas e a própria cidade. Como reinventar um coletivo diante de tantas rupturas? Talvez a resposta sequer apareça, mas, ao fim, constrói-se um festival a muitas mãos num profundo, corajoso e transformador mergulho naquilo que cada um traz de potente em si – e que está disposto a compartilhar.
Programação do Espaço Cultural da Barroquinha, Teatro Gregório de Mattos e Coaty

Entre citação e excitação. Repetir, repetir até ficar violento. Bater, debater até ficar abatido. Cuspe: lubrifica, estimula e ofende. Visgo agridoce que despe e desmonta. Perguntar, perguntar até ficar diferente. Diferir, diferir até ficar possível. De onde se fala? E para quem se fala? Direção de Lucas Valentim e Lulu Pugliese para o Grupo de Dança Contemporânea da UFBA.

Onde: Teatro Gregório de Mattos
Quando: 28/10, às 18h
Quanto: R$20 (inteira) e R$10 (meia)

– Antígona Recortada – Contos Que Cantam Sobre Pousospássaros (Núcleo Bartolomeu de Depoimentos – SP)

Direção de Cláuda Schapira para o Núcelo Bartolomeu de Depoimentos, Antígona Recortada relata a história de adolescentes e crianças que vivem nos morros, nas favelas, e pelas circunstâncias acabam por levar uma vida de adultos desde tenra idade. O universo do tráfico de drogas é o grande pano de fundo para esta narrativa, onde o foco principal é retratar esses jovens e a inversão de papéis que a realidade dura e muitas vezes trágica, acaba por inflingir. A descrição deste universo e a possibilidade de criar, apenas por um dia, outro mundo possível, uma zona autônoma temporária, uma utopia futura, são o foco central da narrativa.

Onde: Espaço Cultural Barroquinha
Quando: 28/10, às 20h, e 29/10, às 18h
Quanto: R$20 (inteira) e R$10 (meia)

– Antígona Recortada – Contos Que Cantam Sobre Pousospássaros (Núcleo Bartolomeu de Depoimentos – SP)

Direção de Cláuda Schapira para o Núcelo Bartolomeu de Depoimentos, Antígona Recortada relata a história de adolescentes e crianças que vivem nos morros, nas favelas, e pelas circunstâncias acabam por levar uma vida de adultos desde tenra idade. O universo do tráfico de drogas é o grande pano de fundo para esta narrativa, onde o foco principal é retratar esses jovens e a inversão de papéis que a realidade dura e muitas vezes trágica, acaba por inflingir. A descrição deste universo e a possibilidade de criar, apenas por um dia, outro mundo possível, uma zona autônoma temporária, uma utopia futura, são o foco central da narrativa.

Onde: Espaço Cultural Barroquinha
Quando: 28/10, às 20h e 29/10, às 18h
Quanto: R$20 (inteira) e R$10 (meia)

– Obsessiva Dantesca (Laís Machado – BA)

Obsessiva Dantesca propõe um espaço de ritualização das obsessões políticas, existenciais e filosóficas, mesclando duas estruturas estéticas: o show e o rito – a performer vai expondo temas e situações-tabu referentes à condição da mulher negra através de representações, músicas autorais e improvisação, ao mesmo tempo em que consome bebidas alcoólicas, que também são dadas pelo público, subvertendo a lógica da vulnerabilização da mulher mediante a embriaguez. Sobre política e outros afrofuturismos. Tem criação e atuação de Laís Machado e direção artística de Diego Pinheiro.

Onde: Ocupação Coaty (Ladeira da Misericórdia s/n)
Quando: 29/10, às 20h
Quanto: R$20 (inteira) e R$10 (meia)

– O Galo (Oco Teatro Laboratório – BA)

Filho de coronel morre em uma suposta rinha de galos, na qual em verdade ele distribuía panfletos contra a ditadura imperante. Deixa como herança para os pais um galo de briga e a partir de então se instaura o sonho de que o animal servirá para mudar a vida dos velhos, assim que ganhar na próxima rinha. Para tanto, eles precisam gastar o pouco que tem mantendo assim o animal vivo. Um galo, a fome e um filho morto conformam a herança que é legada a duas pessoas que, em situações extremas, debatem-se constantemente entre o real e o mágico, entre a necessidade objetiva de subsistir e a utopia. O espetáculo O Galo tem texto de Claudio Lourenzo inspirado na obra Ninguém Escreve ao Coronel, de Gabriel Garcia Marquez. Com Claudia Di Moura e Lúcio Tranchesi, e direção de Luis Alonso para o Oco Teatro Laboratório.

Onde: Teatro Gregório de Mattos
Quando: 30/10, às 16h
Quanto: R$20 (inteira) e R$10 (meia)