Espetáculo O Rato no Muro da Hilda Hilst estreia no Teatro Martim Gonçalves


Fotos/Divulgação

Texto escrito na ditadura militar e que trata de rompimentos de paradigmas será encenado por turma de formatura da Escola de Teatro da UFBA

Qual é o seu medo? Qual é a sua culpa? É debatendo os medos, culpas e muros físicos, simbólicos e subjetivos, que o espetáculo O Rato no Muro, da dramaturga Hilda Hilst, chega ao Teatro Martim Gonçalves, dia 07 de dezembro de 2023, às 19h. Estrelado pela turma de formatura em Interpretação Teatral 2023.2, da Escola de Teatro da UFBA, a temporada segue até o dia 17 de dezembro, é gratuita, e promete tocar a alma e consciência do público, ao falar sobre a liberdade de ser e estar na vida, assim como de padrões que limitam as expressões e o desejo de pulsar diariamente.

Escrito por uma mulher e com todas as personagens femininas, a direção é assinada por  Meran Vargens, Elaine Cardim e Vica Hamed. E foi a partir das inquietações e das demandas dos estudantes que surgiu a escolha, especialmente do desejo de falar sobre tragédias cotidianas e de dar protagonismo a uma mulher dramaturga. Para a diretora Elaine Cardim, para as mulheres, por exemplo, há séculos são estabelecidos medos para galgar a sociedade capitalista e o patriarcado, e é importante ver o medo como uma estratégia.

Mais do que do pensamento artístico, a montagem que está para além  do campo intelectual e passa pelo subjetivo, tem como prioridade a formação do elenco, tendo como norte a perspectiva pedagógica, de desenvolvimento intelectual, emocional, psíquico e de alma de cada um dos e das estudantes. “É um privilégio como artista, mulher e aprendiz fazer parte do elenco de um espetáculo que descortina violências e silenciamentos que perpassam a identidade das mulheres”, conta Ana Paula Borges, atriz de O Rato no Muro.

Em um texto carregado por metáforas e que leva a um mergulho profundo na condição humana, a equipe  traz uma linguagem poética ampla e escolheu construir o trabalho com o texto pela intuição e instinto. Inicialmente, conectando a arte ao corpo e a alma, para ganhar intimidade com os pensamentos e as palavras da autora. Escrito em 1967, em  período de opressão, censura e desvalorização da arte, para Rafael Britto o momento em que a Hilda Hilst escreve o texto é de um marco histórico muito importante, um processo ditatorial que não permite o meio termo, a diversidade, a diferença.

“Ela [Hilda Hilst] nos motiva a pensar nas repressões cotidianas , nos silenciamentos que nos impedem de falar sobre ser uma pessoa soropositiva, homem gay, afroindígena, como eu sou. Construir o espetáculo me permitiu rememorar alguns medos e perceber o quanto eles me limitaram e me impediram de ser quem desejava. Foi doloroso, mas também me proporcionou perceber um outro cara, quem sou hoje, o quanto que sou vencedor por ter me livrado dessa culpabilização e medos”, ressalta Rafael.

Quem incute o medo que existe em nós? Quem edifica o medo e a culpa?, questiona a diretora geral Meran Vargens, que acredita que é preciso dar atenção ao que mobiliza o medo e a culpa. “Existe alguém, em um plano de poder e interesses evidentes, que tem objetivo de trucidar aquilo que emana da vida, do que é viver e expressar, que se propõe a atiçar aquilo que não é vida e que se opõe ao brilho da existência”, completa Meran.

Os espectadores podem aguardar palavras como verdadeiros portais, interações se revelando a partir do campo magnético, do vínculo sincero e efetivo, e ver a arte agir no imaginário e potencializar lembranças, dores, angústias e, em contrapartida permitir o alcance de cosmovisões múltiplas. Tudo isso agregado a iluminação de Otávio Correia, que traz sombras, se soma a cenografia digital de Marcus Lobo, e revela em sincronia com projeções em uma caixa preta –  que faz alusão aos muros que encontramos não só no convento que existe na história de Hilda, mas em outros ambientes sociais e existentes atualmente -, a criação das atmosferas e espaços do espetáculo.

Com figurino e maquiagem de Thiago Romero, que pretende evidenciar as diferenças ao mesmo tempo que traz a unicidade e demonstra que todas as personagens são uma só, será possível ver uniformes que expõem o hábito, o padrão e retiram as identidades das personagens, as irmãs que não têm sequer nome. O público ainda será surpreendido com um forte trabalho de vocalização, em uma aura sonora fortalecida por Luciano Bahia, que assina a direção musical e a trilha sonora junto a Elaine Cardim, uma das três diretoras que trabalham com voz e constroem com a equipe o forte recorte musical presente no trabalho.

SERVIÇO

O QUÊ? Espetáculo “O Rato no Muro”, da dramaturga Hilda Hilst

ONDE? Teatro Martim Gonçalves (Av. Araújo Pinho, 292 – Canela, Salvador – BA)

QUANDO? 07 a 17 de dezembro de 2023 (quinta a domingo)

QUANTO? Gratuito

FICHA TÉCNICA

Texto: Hilda Hilst

Direção Geral: Meran Vargens

Direção: Elaine Cardim e Vica Hamed

Professoras orientadoras: Elaine Cardim e Vica Hamed

Elenco: Ana Paula Borges, Ceia Correia, Lana Sacramento, Lívia Maria, Marina

Torres, Nina Andrade, Rafael Britto, Renata Benigno, Victor Hugo Carvalho

Iluminação: Otávio Correia

Cenografia: Marcus Lobo

Figurino e maquiagem: Thiago Romero

Direção musical: Luciano Salvador Bahia


Festa de Santa Bárbara com 382 anos é um dos Bens Imateriais protegidos pelo IPAC


Fotos: Fernando Barbosa/Divulgação

Iniciada no século XVII, desde 1641, quando o casal de portugueses, Francisco Pereira do Lago e Andressa de Araújo, fizeram uma promessa no Morgado de Santa Bárbara, no bairro do Comércio, ao pé da atual Ladeira da Montanha, a Festa de Santa Bárbara acontece mais uma vez em Salvador, nesta segunda-feira (4), a partir das 6h, como uma síntese da cultura baiana que carrega influências europeias e africanas, simultaneamente. Neste ano (2023), a Festa completa 382 anos de existência e é um dos Bens Imateriais registrados como ‘Patrimônio da Bahia’ através do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural (IPAC).

O IPAC é integrante da Secretaria de Cultura do Estado (SecultBa) que repassou neste ano (2023) o investimento de aproximadamente R$ 386 mil para a realização das comemorações e outras ações correlatas. A programação de segunda (4) inclui ‘alvorada’ de foguetes, missa campal, procissão com sete andores decorados com santos católicos, além de apresentações e shows musicais nos largos Tereza Batista, Quincas Berro D’Água e Pedro Archanjo, no Pelourinho.

A manifestação passou a ser Patrimônio da Bahia em 2008 via Decreto nº 11.353 do Governo da Bahia. O roteiro começa no Largo do Pelourinho e depois uma procissão segue para o Terreiro de Jesus, Praça da Sé, Praça Municipal, Ladeira da Praça, parando na sede do Corpo de Bombeiros, na Praça dos Veteranos, seguindo na Baixa dos Sapateiros até o Mercado de Santa Bárbara e voltando ao Largo do Pelourinho onde os andores com os santos ficam por um tempo à espera de fiéis e devotos. (programação mais ABAIXO).

ORDEM, PATRIMÔNIO e LIVRO – Depois de um incêndio que destruiu o Morgado, no Comércio, a imagem da santa, que tinha capela própria, foi para a Igreja do Corpo Santo e, finalmente, para o Rosário dos Pretos. “Desde 1997, a festa é organizada pela Venerável Ordem Terceira do Rosário de Nossa Senhora às Portas do Carmo Irmandade Dos Homens Pretos”, explica a diretora do IPAC, Luciana Mandelli. Todos os anos, o evento reúne mais de 10 mil fiéis no Centro Histórico de Salvador. São visitantes de todo o Brasil e até do exterior vindo participar das festividades que têm início com o Tríduo na Igreja entre os dias 01° e 03 de dezembro.

O Rosário foi fundado em 1685 e passou à Ordem 3ª em 1899. “Devido à importância cultural, artística e histórica da Igreja do Rosário dos Pretos, o conjunto é tombado como ‘Patrimônio do Brasil’ pelo IPHAN, desde 1938”, completa Luciana Mandelli. Acesse o site www.ipac.ba.gov.br, o instagram @ipac.ba, o facebook Ipacba Patrimônio e twitter @ipac_ba.

Os interessados podem acessar gratuitamente o livro do IPAC ‘Festa de Santa Bárbara’ no site www.ipac.ba.gov.br, no lado esquerdo da primeira página, no link ‘Publicações para download’ e, depois, no link ‘Cadernos do IPAC’. Ou no link https://drive.google.com/file/d/0B3D0pMS8V_3sQ1lGamhFOUc2cDQ/view?resourcekey=0-gzANAnvJRFyHCPG-GoDcNw.

Box opcional: HISTÓRIA – A Festa de Santa Bárbara remonta ao ano de 1639, quando o casal Francisco Pereira e Andressa Araújo construiu capela devocional no comércio às margens da Baía de Todos os Santos, em Salvador. Desde então a festividade, transferida para o Pelourinho, tornou-se não somente fonte de fé para católicos como também para adeptos da religiosidade de matrizes africanas, que chegam de diversos estados brasileiros e até de fora do Brasil para participar da festa e procissão em Salvador.

A programação inclui tríduo de celebrações eucarísticas e termina na Igreja do Rosário dos Pretos. A igreja e seus bens móveis, como as imagens dos santos, pinturas do teto e azulejos foram restaurados pelo IPAC ao custo de R$ 2,6 milhões no início da década de 2010. Autarquia da Secretaria de Cultura do Estado (SecultBa), o IPAC recebeu nessa época recursos do Tesouro Estadual e do programa federal Prodetur, financiamento do Banco Interamericano, via Ministério do Turismo e Secretaria do Turismo, e investimento do Banco do Nordeste.

A exposição permanente que existe no corredor lateral da Igreja do Rosário dos Pretos também aconteceu graças ao Edital de Museus do IPAC. A mostra é uma homenagem à Irmandade e à Venerável Ordem Terceira do Rosário às Portas do Carmo, nome da entidade, fundada por descendentes de escravos e ex-escravos que construíram a igreja.


Retrospectiva do fotógrafo Walter Firmo abre dia 5 no MAM Bahia


Fotos/Divulgação

A esperada exposição ‘Walter Firmo: no verbo do silêncio a síntese do grito’ finalmente chega a Salvador em 5 de dezembro, com abertura às 17h, no Museu de Arte Moderna (MAM Bahia). Às 18:30h do mesmo dia será realizada uma Mesa de conversa com o fotógrafo Walter Firmo e os curadores da mostra, Janaína Damaceno e Sergio Burgi no Cine MAM, com acesso gratuito, mas sujeito à lotação da sala. Após a Mesa no Cine MAM, está marcada uma visita do artista à exposição. A previsão é que mostra fique aberta até final de março/24.

Com 86 anos de idade, dezenas de exposições/livros e 68 anos de carreira, o carioca Walter Firmo, nascido em 1937, é considerado um dos fotógrafos mais importantes do país, com fotos ícones da memória e da cultura brasileiras. Dentre os seus prêmios, estão o Prêmio Esso de Reportagem (1964), sete prêmios no Concurso Internacional de Fotografia da Nikon (entre 1973 a 1982), o Prêmio Golfinho de Ouro (1985), o Bolsa de Artes do Banco Icatu (1998) e a Ordem do Mérito Cultural (2004).

A mostra é uma iniciativa do Instituto Moreira Salles (IMS) com apoio do Governo do Estado da Bahia, através da Secretaria de Cultura (SecultBA), Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural (IPAC) e MAM Bahia. A visitação é gratuita de terça-feira a domingo, das 10h às 18h. A retrospectiva tem 200 obras do artista, consagrado por sua sequência de projetos que registram e celebram o povo e a cultura negra do Brasil. A seleção traz desde imagens do início de sua carreira até registros recentes. No conjunto, há fotos de manifestações culturais e religiosas, retratos icônicos de artistas como Pixinguinha, Dona Ivone Lara e Clementina de Jesus, entre outros destaques.

“Para nós é uma grande honra receber um artista da magnitude e da importância de Walter Firmo integrando a programação do Novembro Negro no MAM Bahia, contando com essa parceria especial com IMS e sendo mais uma atração de um novo momento de readequação e requalificação dos Museus do Instituto”, ressalta a diretora geral do IPAC, Luciana Mandelli. Além do MAM, o IPAC administra os mais importantes museus baianos, como o de Arte Contemporânea (MAC), o de Arte da Bahia (MAB), o Museu do Recôncavo e o Solar Ferrão, dentre outras importantes coleções de arte.

CURADORIA e SOLAR do UNHÃO – A curadoria da exposição é de Sergio Burgi, coordenador de Fotografia do IMS, e da curadora adjunta Janaína Damaceno Gomes, professora da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) e coordenadora do Grupo de Pesquisas Afrovisualidades: Estéticas e Políticas da Imagem Negra. A retrospectiva também conta com assistência de curadoria da conservadora-restauradora Alessandra Coutinho Campos e pesquisa biográfica e documental de  Andrea Wanderley, integrantes da Coordenadoria de Fotografia do IMS.

Segundo a diretora do MAM Bahia, Marília Gil, a seleção de fotos ocupa o primeiro pavimento do Casarão do museu. “Trata-se do primeiro piso do Solar do Unhão, que é climatizado e cuja edificação é tombada como Patrimônio do Brasil desde 1943, juntamente com a Capela e outros remanescentes”, completa Marília. As fotos da mostra foram produzidas da década de 1950, início da carreira de Firmo, até 2021.

Aparecem ainda imagens de diversas regiões do Brasil, com registros de ritos, festas populares e cenas cotidianas. O conjunto destaca a poética do artista, associada à experimentação e à criação de imagens muitas vezes encenadas e dirigidas. Grande parte das obras exibidas provém do acervo do fotógrafo, que se encontra sob a guarda do IMS desde 2018 em regime de comodato.

Nas fotografias, prevalece uma aura de afetividade e valorização da negritude, como afirma o próprio Walter: “Acabei colocando os negros numa atitude de referência no meu trabalho, fotografando os músicos, os operários, as festas folclóricas, enfim, toda a gente. A vertigem é em cima deles. De colocá-los como honrados, totens, como homens que trabalham, que existem. Eles ajudaram a construir esse país para chegar aonde ele chegou”, explica Firmo.

SOCIEDADE RACISTA – A curadora adjunta Janaína Damaceno Gomes também reflete sobre o tema: “Se numa sociedade racista, a norma é o ódio e o auto-ódio, como nos mostram os trabalhos de bell hooks, Frantz Fanon e Virgínia Bicudo, amar a negritude compreende um percurso necessário de cura. Não é à toa que Firmo define a cor em seu trabalho em termos de amor pelo povo e pela cultura negra, mas é necessário entender que o direito a olhar não se restringe à ideia de autorrepresentação”, finaliza Janaína.

A retrospectiva evidencia como, no decorrer de sua carreira, Firmo passou a se distanciar do fotojornalismo documental e direto, tendo como base a ideia da fotografia como encantamento, encenação e teatralidade, em diálogo com a pintura e o cinema. Sobre seu processo criativo, o artista comenta: “A fotografia, para mim, reside naqueles instantes mágicos em que eu posso interpretar livremente o imponderável, o mágico, o encantamento. Nos quais o deslumbre possa se fazer através de luzes, backgrounds, infindáveis sutilezas, administrando o teatro e o cinema nesse jogo de sedução, verdadeira tradução simultânea construída num piscar de olhos em que o intelecto e o coração se juntam, materializando atmosferas”, conclui o artista.

CATÁLOGO – Por ocasião da mostra, o IMS lançou em São Paulo o catálogo ‘Walter Firmo – No verbo do silêncio a síntese do grito’ que já está concorrendo ao renomado Prêmio Jabuti. A publicação traz as obras do autor presentes na exposição, além de textos de autoria do próprio Firmo, de João Fernandes, diretor artístico do IMS, e dos curadores Sergio Burgi e Janaina Damaceno Gomes. O livro também traz uma entrevista do fotógrafo em conversa com os curadores e com o jornalista Nabor Jr., editor da revista O Melenick, além de uma cronologia do fotógrafo assinada por Andrea Wanderley.

Mais informações sobre Walter Firmo no link https://ims.com.br/titular-colecao/walter-firmo/. Sobre o MAM Bahia no site www.mam.ba.gov.br, instagram @bahiamam e telefones (71) 31176132 e 31176139 (segunda a sexta, 9h às 12h e 13h às 15h). Sobre o IPAC, no site www.ipac.ba.gov.br e instagram @ipac.ba.

BIOGRAFIA – Nascido em 1937, no bairro do Irajá, no Rio de Janeiro, Walter Firmo conta que desde garoto sonhava em fotografar. Ingressou no fotojornalismo em 1955, como aprendiz, no jornal Última Hora, e não parou mais. Em 1955, então com 18 anos, passou a integrar a equipe do jornal Última Hora, após estudar na Associação Brasileira de Arte Fotográfica (Abaf), no Rio. Mais tarde, trabalharia no Jornal do Brasil e, em seguida, na revista Realidade, como um dos primeiros fotógrafos da revista.

Walter Firmo trabalhou em diversos jornais e revistas e construiu uma carreira longeva, reconhecida por prêmios. Um deles foi o Esso de Reportagem, em 1963, conquistado por ‘Cem dias na Amazônia de ninguém’, matéria publicada no Jornal do Brasil com fotos e texto seus. Chamado de ‘mestre da cor’, Firmo é autor de retratos memoráveis de ícones da música brasileira como Pixinguinha, Dona Ivone Lara, Cartola.

Outra vertente bastante conhecida de seu trabalho são as imagens de festas populares registradas por todo o Brasil, do carnaval do Rio de Janeiro ao bumba meu boi no Maranhão. Desde 2018 o Instituto Moreira Salles abriga, em regime de comodato, aproximadamente 145 mil fotos feitas por Firmo ao longo de várias décadas. O material estabelece um diálogo direto com outros grandes nomes do acervo do IMS, como José Medeiros, com quem Firmo trabalhou, e Marcel Gautherot.

Criado no subúrbio carioca, filho único de paraenses – seu pai, de família negra e ribeirinha do baixo Amazonas; sua mãe, de família branca portuguesa, nascida em Belém –, Firmo começou a fotografar cedo, após ganhar uma câmera de seu pai. Em 1967, já trabalhando na revista Manchete, foi correspondente, durante cerca de seis meses, da Editora Bloch em Nova York. Neste período no exterior, o artista teve contato com o movimento Black is Beautiful e as discussões em torno dos direitos civis, que marcariam todo seu trabalho posterior. De volta ao Brasil, trabalhou em outros veículos da imprensa e começou a fotografar para a indústria fonográfica. Iniciou ainda sua pesquisa sobre as festas populares, sagradas e profanas, em todo o território brasileiro, em direção a uma produção cada vez mais autoral.

Essa aproximação com a teatralização e a pintura fica evidente no ensaio realizado em 1985 com os pais (José Baptista e Maria de Lourdes) e os filhos (Eduardo e Aloísio Firmo) do fotógrafo, exibidos na exposição. Nas imagens, José aparece vestindo seu traje de fuzileiro naval, função que desempenhou ao longo da vida, ao lado de Maria de Lourdes, que usa um vestido longo, florido e elegante.

O ensaio faz alusão às pinturas Os noivos (1937) e Família do fuzileiro naval (1935), do artista Alberto da Veiga Guignard (1896-1962). A partir da década de 1970, Firmo fica muito conhecido por suas fotos que ilustram inúmeras capas de discos, com nomes como Dona Ivone Lara, Cartola, Clementina de Jesus, Paulinho da Viola, Gilberto Gil, Martinho da Vila, Maria Bethânia, Caetano Veloso, Milton Nascimento, Djavan e Chico Buarque.

O curador Sergio Burgi comenta a poética construída pelo artista: “Walter Firmo incorporou desde cedo em sua prática fotográfica a noção da síntese narrativa de imagem única, elaborada através de imagens construídas, dirigidas e, muitas vezes, até encenadas. Linguagem própria que, tendo como substrato sua consciência de origem – social, cultural e racial –, desenvolve-se amalgamada à percepção da necessidade de se confrontar e se questionar os cânones e limites da fotografia documental e do fotojornalismo. Num sentido mais amplo, questionar a própria fotografia como verossimilhança ou mera mimese do real”.

Serviço

O quê: Exposição ‘Walter Firmo: no verbo do silêncio a síntese do grito’

Quando: 05.12.2023, às 17h, c/visitação gratuita de terça-feira a domingo, das 10h às 18h

Onde: MAM Bahia (Av. Contorno, s/n – Comércio, Salvador – BA, 40301-155 – Telefones 71 31176132 e 31176139)

FOTOS: LINK com fotos da Exposição Walter Firmo no MAM repassadas e autorizadas pelo pessoal do Instituto Moreira Sales. Nesse LINK está inclusa ainda a Lista com LEGENDAS/descrição, nome e ano de cada foto:

https://drive.google.com/drive/folders/1nmadvvccUf3zGX2OiAM_QMOmYkKDLa8C


Sessão Cinemateca Bahia em celebração ao Novembro das Artes Negras


Foto: Lucas Malkut/Divulgação

A sexta edição do Novembro das Artes Negras, promovida pela Fundação Cultural do Estado da Bahia, instituição vinculada à Secretaria de Cultura do Estado, acontece de 28 a 30 de novembro. Integrando a programação audiovisual do evento, a Sala de Cinema Walter da Silveira, gerida pela Diretoria de Audiovisual da Funceb (Dimas/Funceb), promoverá Sessão Cinemateca da Bahia – Novembro das Artes Negras.

As Sessões irão acontecer em homenagem ao cineasta Antonio Olavo (1913-1993), com exibição de três de seus filmes: Quilombos da Bahia, Abdias do Nascimento – Memória Negra e A Cor do Trabalho.

Sobre o cineasta

Antonio Olavo, cineasta e pesquisador, trabalha com temas ligados à valorização da memória negra. É autor do livro “Memórias Fotográficas de Canudos'” (1989) e gestor da Portfolium Laboratório de Imagens, produtora pela qual dirigiu 7 filmes longas-metragens: “Paixão e Guerra no Sertão de Canudos” (1993); “Quilombos da Bahia’ (2004); ‘Abdias Nascimento Memória Negra” (2008); “A Cor do Trabalho” (2014); “1798 Revolta dos Búzios”; “Quilombo Candeal – Roda de Versos na Boca da Noite” (2021) e “Ave Canudos! Os que sobreviveram te saúdam” (2021). Dirigiu também uma série para TV denominada “Travessias Negras” (2017) e atualmente está finalizando o filme “Sociedade Protetora dos Desvalidos – 190 anos”.

Confira as sinopses de cada filme abaixo!

PROGRAMAÇÃO:

28/11/2023 (Terça-Feira)

17h – Sessão Cinemateca da Bahia – Novembro das Artes Negras

Quilombos da Bahia (2004)

Sinopse: Centenas de comunidades negras, muitas delas seculares, vivem espalhadas por todo o estado da Bahia. No início de 2004, durante 90 dias, a equipe deste filme percorreu 12.000 km e visitou 69 destas localidades, registrando um pouco das suas histórias, buscando assim, contribuir para a visibilidade e valorização da memória negra na Bahia

29/11/2023 (Quarta-Feira)

17h – Sessão Cinemateca da Bahia – Novembro das Artes Negras

Abdias do Nascimento – Memória Negra (2008)

Sinopse: O cineasta baiano Antônio Olavo dirigiu e produziu o filme Abdias Nascimento Memória Negra em 2008, em parceria com o Ipeafro. O filme se baseia em entrevista conduzida pelo etnógrafo cubano/ jamaicano Carlos Moore. A entrevista dialoga com cenas gravadas na exposição do Ipeafro no Arquivo Nacional e com imagens de arquivo que registram momentos históricos do Brasil nos diversos tempos da trajetória do entrevistado.

30/11/2023 (Quinta-Feira)

17h – Sessão Cinemateca da Bahia – Novembro das Artes Negras

A Cor do Trabalho

Sinopse: A história, formação e desenvolvimento dos empreendedores negros, a sua contribuição para o mundo do trabalho na Bahia e para a construção de uma nova Economia para um mundo solidário são as linhas mestras do documentário A Cor do Trabalho, uma realização da Superintendência de Economia Solidária da Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte (Setre) da Bahia em parceria com o cineasta baiano Antonio Olavo.

O longa metragem conta a história do trabalho negro na Bahia desde o tempo da escravatura até os dias atuais. “O objetivo é mostrar, realmente, como a educação pode ajudar na ascensão do negro na sociedade”, explica Antonio Olavo que conta que o longa traz experiências vitoriosas de negros e negras que, ao longo dos séculos, romperam com o estigma do preconceito racial e, por meio da educação ou da abertura de negócios próprios, tiveram êxito em sua trajetória profissional.

Serviço

Sessão Cinemateca da Bahia – Novembro das Artes Negras

Quando: 28, 29 e 30 de novembro de 2023, às 17h
Onde: Sala de Cinema Walter da Silveira (R. Gen. Labatut, 27 – Barris, Salvador – BA)
Gratuito


Coletivo Trippé estreia ‘Libertárias’ com temporada gratuita em Juazeiro


Divulgação

Ideias de liberdade e feminino são o mote de criação do novo trabalho do Coletivo Trippé, a performance ‘Libertárias’. A obra, inspirada nas protagonistas femininas da Independência da Bahia, cumpre temporada em Juazeiro (BA), até sexta (24).

“Nós usamos essas mulheres fortes que lutaram pela independência do nosso estado como inspiração para falar sobre o que significa a liberdade através do nosso movimento, tentando ampliar a discussão para além da história e dialogar com a contemporaneidade”, diz a bailarina Mary Ane Nascimento.

A estreia de ‘Libertárias’ foi ontem  dia 21, 14h, no Centro Territorial de Educação Profissional do Sertão do São Francisco, o CETEP de Juazeiro. Às 19h30, a performance foi também apresentada no CEEP Norte Baiano. As apresentações nas escolas continuam na quinta (23), às 14h e 19h30, ambas no Complexo Integrado de Educação Básica, Tecnológica e Profissional da Bahia – Campus Rui Barbosa.

Nas escolas, também estão sendo realizados bate-papos com os artistas e estudantes. “Em nossas ações do Coletivo Trippé, sempre pensamos em expandir as atividades para além do centro e dialogar com esses espaços de educação, principalmente com esse tema que fala de parte tão importante da história do país”, afirma o diretor Adriano Alves.

O público em geral da cidade poderá acompanhar duas apresentações abertas à comunidade. A primeira no Centro de Cultura João Gilberto e a outra, na sexta (24), no Canto de Tudo da Uneb Juazeiro, também às 19h30 e gratuita.

Dividem a cena as bailarinas Rafaedna Brito e Mary Ane Nascimento, com direção de Adriano Alves. A direção de arte foi feita por Rariedna Brito e a musicalidade com orientação de Carina Oliveira. A produção é da Pipa Produções, com produção executiva de Nilzete Miranda e assistência de Ramon Souza.

Este projeto foi contemplado pelo edital Diálogos Artísticos – Bicentenário da Independência na Bahia e tem apoio financeiro da Fundação Cultural do Estado da Bahia, unidade vinculada à Secretaria de Cultura (Funceb/SecultBa).

COLETIVO TRIPPÉ – Criado em 2011 com a união de novos criadores do forte movimento que transborda na ribeira, além de espetáculos, também vem investindo em projetos de pesquisa, produção de mostras e em experimentações nas áreas de intervenções e performances. Outras informações nas redes sociais: Facebook.com/coletivotrippe e Instagram.com/trippecoletivo.

Serviço

Performance de dança ‘Libertárias’
21 e 23/11, às 14h e 19h30, em escolas públicas de Juazeiro-BA

22/11, às 19h30, no Centro de Cultura João Gilberto

24/11, às 19h30, no Canto de Tudo da Uneb Juazeiro

Entrada gratuita.

Classificação Livre.