“Woyzeck – Zé Ninguém” no Teatro Goethe – ICBA


Simone Brault e Felipe Viguini em Foto divulgação de Diney Araújo

Relações de poder e antagonismos sociais conduzem a montagem de Woyzeck – Zé Ninguém, adaptada do original de Georg Büchner, no Teatro Goethe-Institut Salvador-Bahia/ICBA, no Corredor da Vitória. O espetáculo dirigido pelo ator e encenador Caio Rodrigo, com co-direção de Guilherme Hunder, estreia no dia 29 de novembro, às 20h, e fica em cartaz até o dia 10 de dezembro , de quarta a domingo.

Concebida a partir do original de Georg Büchner, obra-prima deste dramaturgo, esta peça faz uma reflexão sobre a exploração do homem pelo próprio homem. Baseada em fatos reais, a história conta a vida de um homem que luta desenfreadamente pela sobrevivência e desenvolve imperativamente várias atividades (soldado/fuzileiro, barbeiro e cobaia de um médico). As inúmeras tarefas não permitem que ele fique muito tempo num espaço, o que impõe o fim abrupto e precoce das cenas, influenciando na linearidade da dramaturgia.

Executadas no ritmo da urgência e do desespero, essas atividades o tiram da convivência familiar e social. Em algumas cenas, Woyzeck se despede da esposa Marie sem sequer ter entrado em casa ou logo depois de chegar. “A construção da individualidade de Woyzeck é feita a partir das relações de opressão, dos antagonismos sociais”, reforça Caio Rodrigo.

Com cortes abruptos e cenas ritmadas cinematograficamente, a adaptação é composta de elementos que reforçam a aproximação desta história com a realidade social e cultural brasileira. Em algumas cenas, Woyzeck é chamado de “Zé”. Interpretado pelo ator Felipe Viguini, esta personagem é o primeiro protagonista proletário da literatura alemã. Escrita em 1837, a obra influencia dramaturgos como Bertold Brecht, em Tambores na Noite e Um homem é um homem.

Musicalidade

Além das composições que já estão no texto original, muitas delas jocosas, Caio Rodrigo traz para sua adaptação músicas do cancioneiro popular brasileiro, que ganham novos arranjos orquestrados pelo diretor musical Elinas Nascimento – Os atores cantam e tocam os instrumentos ao vivo.

Em sua maioria, as músicas sugeridas pela dramaturgia original são aproveitadas, mas reescritas para se adequarem à atualidade musical dada a adaptação. A música assume um lugar de potência afetiva e conduz a dramaturgia. Entre as composições do imaginário nacional estão “Pois é, seu Zé”, “Comportamento Geral” e “O Preto que satisfaz”, de Gonzaguinha.

Circo e Horror

Com objetivo de mostrar a diferença muito sutil entre realidade e ficção, a direção utiliza-se das estéticas do circo e do horror show, que reforçam ainda a personalidade de “Zé” e as relações de poder que estão incrustadas em sua trajetória. A alegoria circense fica a cargo de personagens como o Capitão (Caio Rodrigo), o Médico (Wanderley Meira), o Tombeiro-mor (Rui Mantur) e o “fiel companheiro” André (Marcos Lopes). Tem ainda uma tenda circense, em que um charlatão (Elinas Nacimento), traz o recurso da metalinguagem para sublinhar a ação dramática.

Já Woyzeck e Marie/Maria (Simone Brault) são a “personificação” do horror social. “Fica evidente na repetição das falas das personagens quanto as características que Woyzeck carrega. Ele é uma pessoa que não tem vontade própria, que vive numa condição de profunda opressão e exploração. Já o Capitão e o Médico são máscaras das instituições que representam”, explica Caio Rodrigo.

Woyzeck – Zé Ninguém
Quando: 29 de novembro até 10 de dezembro – quarta a sábado, 20h e domingo, 19h
Onde: Teatro Goethe-Institut Salvador-Bahia/ICBA, no Corredor da Vitória
Ingresso: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia)
Classificação: 18 anos

Aviso: Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não reflete a opinião deste site. Todos os comentários são moderados e nos reservamos o direito de excluir mensagens consideradas inadequadas com conteúdo ofensivo como palavrões ou ofensa direcionadas a pessoas ou instituições. Além disso, não serão permitidos comentários com propaganda (spam) e links que não correspondam ao post.